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Terça - 18 de Novembro de 2003 às 12:25
Por: pkpsh0ck

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Se pretende mesmo cumprir a promessa de melhorar a vida de milhões de brasileiros que vivem na miséria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabe que um dos desafios-chave é quebrar a exclusão digital...E se isso significar evitar a Microsoft no maior país da América do Sul, assim será.

O comando da tecnologia na administração Silva quer transformar a terra do samba e do Carnaval numa nação tecnológica na qual todo mundo, das crianças em idade escolar aos burocratas do governo, usa programas abertos (open source) em vez dos caros produtos Windows.

Tal política faz evidente sentido para um país em desenvolvimento onde meros 10% dos 170 milhões de habitantes tem micros em casa e no qual o endividado governo é o maior comprador de computadores, disse Sérgio Amadeu, o entusiasta do software livre indicado por Lula para coordenar o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação

Pagar as altas licenças de software para companhias como a Microsoft é simplesmente "insustentável economicamente" quando aplicações que rodam no sistema operacional aberto Linux são muito mais baratas, disse Amadeu. Sob sua liderança, a administração Silva está encorajando todos os setores do governo a mudar para programas open-source, cujo código-fonte é disponível pública e gratuitamente.

"Temos algumas ilhas no governo federal usando open-source, mas queremos criar um continente", disse Amadeu, professor de economia que ganhou fama antes de integrar a equipe de Lula ao lançar uma rede de centros de computação livre na maior cidade do Brasil, São Paulo.

Amadeu, que usa um laptop com Linux em seu escritório, num anexo do palácio presidencial, é autor do livro Exclusão Digital: Miséria na Era da Informação, no qual sustenta que a lacuna entre os necessitados e os bem-sucedidos será cada vez mais profunda a menos que os pobres tenham acesso fácil à tecnologia que está ao alcance dos dedos dos ricos, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil.

Apenas duas pequenas agências governamentais em Brasília ¿ o departamento de Amadeu e a agência de notícias do governo ¿ mudaram até agora do sistema operacional da Microsoft para o open-source. Mas o Brasil assinou recentemente uma carta de intenções com a IBM para ajudar no empurrão em direção a plataformas como o Linux.

Amadeu disse que está conversando com os encarregados das eleições sobre o uso de programas abertos nas mais de 400 mil urnas eletrônicas, 20% das quais rodam uma variação do Windows.

Embora Amadeu insista que o governo não tem planos de obrigar o uso do software aberto, apenas de incentivar, a Microsoft está preocupada e trabalhando com afinco para prevenir que esta política se torne uma lei.

"Ainda achamos que a livre escolha é melhor para as companhias, os indivíduos e o governo", disse Luiz Moncau, diretor de marketing da Microsoft no Brasil. "Há o risco de se criar uma ilha tecnológica no Brasil apoiada por lei".

Qualquer movimento no sentido de fugir ao uso do Windows no Brasil prejudicaria claramente a Microsoft em seu maior mercado na América do Sul. Dos US$ 318 milhões ganhos pela companhia no Brasil no ano fiscal que terminou em junho, entre 6% e 10% vieram do governo, disse Moncau.

Um corte na fatia da Microsoft não perturbaria Silva, um ex-líder sindical nacional cuja iniciativa mais proeminente procura acabar com a fome entregando a famílias pobres uma quantia por mês para comprar comida.

O open-source representa uma pequena fatia do mercado global de software, mas governos em todo o mundo começaram a mudar para este modelo por várias razões, e entre elas, não querer ficar amarrado à Microsoft.

Agências federais em países desenvolvidos como França, Alemanha, China e Estados Unidos adotaram o Linux em servidores. O custo é um fator, embora muitos administradores de rede considerem o Linux mais estável e menos suscetível a vírus e ataques hackers.

E enquanto outros países em desenvolvimento, como a Índia, vão ainda mais longe que o Brasil na promoção do uso de sistemas open-source, o Brasil se equilibra no papel de modelo para outros países latino-americanos interessados em cortar seus custos em computadores, disse Vania Curiati, diretora de software da IBM no Brasil.

Como fez em outros países em desenvolvimento, inclusive no Peru, onde a companhia enfrenta o desafio open-source, a Microsoft doa programas a escolas e organizações sem fins lucrativos no Brasil.

No setor privado, muitos companhias já estão usando ou testando a capacidade do Linux, disse Curiati. No ano passado, a IBM ajudou uma das maiores cadeias de fast-food do Brasil, a Habib¿s, a instalar um sistema Linux que permite aos consumidores pedir comida por telefone e recebê-la em casa em menos de 30 minutos.

Moncau joga por terra as predições dos apoiadores brasileiros do open-source de que os esforços do governo para aumentar o uso do Linux poderiam criar empregos e transformar o país num exportador de tecnologia. Software aberto, na verdade, pode ser mais caro do que os programas do Windows quando os custos de serviço são considerados, defende.

Mas tente dizer isso às dezenas de milhares de brasileiros que regularmente visitam um dos 86 "Telecentros" com computadores instalados em São Paulo. Todas as máquinas dos centros usam programas de código aberto e dão acesso à tecnologia a trabalhadores brasileiros que não têm condições de comprar computadores. Eles aprendem como enviar e-mails, montar currículos e navegar na Internet.

Esperando sua vez num terminal enquanto embalava o filho nos braços, Francisco de Assis disse que seu salário mensal de cerca de R$ 600 torna a compra de um computador impossível. O vigia de 31 anos acha a situação do governo parecida com a sua. "Se este fosse um país rico, não faria diferença e poderíamos comprar os produtos da Microsoft, mas somos um país em desenvolvimento e o Linux é muito mais acessível, então estamos na direção de uma geração Linux.

Fonte: AP/Plantão Navegue Melhor




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