Total Security - www.totalsecurity.com.br
Segurança
Sexta - 10 de Fevereiro de 2006 às 19:18
Por: escritor

    Imprimir


A lei que proíbe a presença de menores de 12 anos em lan houses e cybercafés no estado de São Paulo gera polêmica entre educadores. A lei entra em vigor no próximo sábado e determina que menores de 12 anos só podem entrar neste tipo de estabelecimento na companhia de um pai ou responsável. Os adolescentes entre 12 e 16 anos deverão apresentar uma autorização por escrito dos pais ou responsável. Pela lei, esses estabelecimentos ainda ficam proibidos de vender bebidas alcoólicas e cigarros e de promover campeonatos de jogos que ofereçam prêmios em dinheiro aos usuários.

A medida tem o apoio do professor Valdemar Setzer, do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, crianças e jovens não devem ter acesso a computador, videogames e mesmo televisão.

- Acho (a medida) uma maravilha porque crianças e jovens não têm capacidade de julgar o suficiente para determinar o que é bom ou ruim para eles. A vida ensina o que é ruim do ponto de vista físico. Mas os principais problemas causados por TV, videogames e computadores não são físicos e eles não percebem o que não é apropriado ou o exagero - afirma.

Para ele, por isso, é essencial que o acesso seja proibido em locais públicos. Pelas pesquisas dele, os jovens só têm maturidade e auto-controle para usar internet e computadores a partir dos 17 anos.

- Imagine uma criança usando a internet. Ela terá acesso a qualquer material. E como poderá julgar o que adequado para sua idade ou não? Não me refiro apenas a sites pornográficos. Um artigo sobre o buraco de ozônio na atmosfera, por exemplo. Crianças sem maturidade podem se apavorar e não querer mais sair de casa - explica.

Apoiado em pesquisas internacionais, ele afirma ainda que os jogos e filmes muito violentos, por exemplo, induzem pensamentos, atitudes e sentimentos agressivos. Dificuldades de socialização pode ser outro problema para as crianças que abusam do tempo na frente do computador ou do videogame.

Uma pesquisa de 2002, feita pela equipe de Theodore E. Gardner, da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, mostra que crianças entre quatro e seis anos que usam o computador durante muito tempo por dia tinham menor possibilidade de aceitação por outras crianças da mesma idade. Elas tiveram mais dificuldade para se integrar a um grupo de colegas com menos experiência tecnológica. Elas ainda se mostraram mais propensas a sintomas de depressão.

A pesquisa acompanhou 120 crianças - 48 meninos e 72 meninas. Quem passava menos tempo em frente à tela usava o computador por cerca de cinco horas por semana. Aquelas que utilizavam por mais tempo ficavam em média 19 horas por semana em frente ao computador.

As proibições impostas pela lei, no entanto, não são tão eficazes para coibir esses e outros problemas para a professora Silvia Fichmann, da Escola do Futuro, também da USP. Segundo ela, a procura por uma lan house pode ocorrer pela busca de uma ambiente social fora do controle dos pais, onde, por exemplo, poderá trocar informações sobre jogos e outros assuntos.

- Medidas radicais podem piorar a situação. Os adolescentes irão encontrar outros locais para jogar, como a casa de amigos. Acho que não se pode colocar as crianças e adolescentes em uma redoma. Para mim, o mais adequado seria uma lei que estabelecesse a presença de um monitor para acompanhar todas as crianças e jovens que usam o computador dentro de uma lan house - afirma.

O modelo, como ela lembra, já é adotado em telecentros e infocentros montados, respectivamente, pela prefeitura e governo estadual de São Paulo.

- Nesses locais há um monitor capacitado orientando os usuários. De outra forma, não tem como controlar. É o mesmo que ocorre com as bebidas alcoólicas, que não devem ser vendidas para menores, mas que muitos estabelecimentos vendem indiscriminadamente. Além disso, qual a diferença de um menino de 11 para um menino de 12? Eles não têm como perceber o que é inadequado - diz Silvia.

Setzer, porém, não acredita que o modelo funcione tão bem no país. Ele cita uma pesquisa estrangeira que acompanhou a instalação de centros gratuitos de acesso à internet em países em desenvolvimento, inclusive o Brasil.

- O único caso de sucesso real foi na Índia onde os telecentros tinham um monitor permanentemente à disposição dos adultos para ensiná-los a usar a internet para busca de cotações agrícolas e outras. Sem um instrutor ao lado durante todo o tempo, as pessoas não têm capacidade de usar adequadamente. Usam apenas jogos e salas de bate-papo-afirma.

Apesar de pesquisas como essa, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) anunciou no mês passado, durante o Fórum Mundial em Davos, que vai apoiar um projeto internacional que visa dar computadores portáteis baratos a crianças estudantes de países pobres.

O projeto "Um Laptop Por Criança", feito em parceria com uma organização sem fins lucrativos, pretende levar essa tecnologia até escolas selecionadas em nações menos desenvolvidas. O objetivo do programa é proporcionar acesso a ferramentas educacionais e a conhecimentos que permitam as crianças superar a pobreza.

Cada computador portátil custará cerca de US$ 100 porque vai utilizar programa de computador de código aberto, como o Linux. A máquina ainda será capaz de tirar e armazenar energia de uma manivela, localizada ao lado do monitor.

Por enquanto, as crianças de bairros carentes de São Paulo utilizam telecentros e infocentros. Lá, contam com monitores, mas jogos ou salas de bate-papo não são proibidos. Os usuários são cadastrados e, nos infocentros, há limite de tempo. Cada pessoa pode usar o computador por apenas meia hora.

Para Silvia, a supervisão deve ocorrer também em casa.

- Não adianta nada proibir a entrada em lan houses se os adolescentes podem usar jogos e outros programas dentro do quarto, sem supervisão - alega.


Fonte:Globo Online




Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: http://www.totalsecurity.com.br/noticia/1133/visualizar/